É bom para as crianças assistir ao funeral de um parente?

As crianças sempre participaram em funerais, que foram simultaneamente um evento religioso e um local para reforçar os laços sociais. Assim, a morte para eles era parte da vida. Só recentemente é que as crianças foram excluídas das cerimónias fúnebres, quer dos seus avós quer de um familiar. Não queremos “perturbá-los”.

Expressar tristeza num funeral é uma forma natural de expressar tristeza por estar separado de um ente querido. As crianças podem ver os seus pais a chorar, eles compreender a sua dor.

Durante muito tempo, os adultos tinham a certeza de que o falecido ia para outros mundos, que ele ou ela era bem recebido por aqueles que tinham partido antes dele ou dela. Tinham a certeza de que mesmo uma vida curta tinha significado, que se chamava vontade divina, e tudo isto contribuiu para uma certa serenidade, e foi transmitida às crianças, mesmo sem palavras, pois vivia nas almas dos adultos.

Hoje em dia, na nossa era de materialismo, o medo da morte, a consternação pela morte, a redução ou mesmo o desaparecimento dos rituais sociais de luto geram frequentemente ansiedade nos adultos, e alguns pais gostariam de proteger os seus filhos dela.

A morte faz parte da vida. É assim.

Estar presente no funeral é parte do processo de luto. Ajuda nas fases posteriores. Aqueles que não puderam assistir ao funeral de um ente querido durante o período de contenção da pandemia sabem disso.

Além disso, oferecer (não pedir) às crianças para assistir ao funeral é ter em conta a sua própria individualidade, é ter em conta a sua própria dor, e é confiar na sua força como seres humanos.

Mas é certo que quanto mais pacífica for a relação dos adultos com o fim da vida e com a morte, tanto mais fácil será para as crianças.

Dra.Clara Naudi
19.06.2020